terça-feira, 7 de agosto de 2007

CINEMA HAITIANO CRESCE APESAR DA CRISE


Até em tempos difíceis, os haitianos não deixam de assistir aos filmes nacionais. E agora também produzem filmes em cifras surpreendentes para os padrões locais: são aproximadamente dez longas-metragens por ano. Quem poderia imaginar que um terço da Ilha Espanhola, a primeira terra das Américas a ser descoberta por Cristóvão Colombo, rivalizaria com Cuba em produção cinematográfica caribenha? E, não raro, as películas haitianas permanecem em cartaz mais tempo que as produções estrangeiras, cujo financiamento é infinitamente maior.

Os dados soam ainda mais espantosos se se tomar em contar que o Haiti – e seus cerca de oito milhões de habitantes – é o país mais empobrecido do continente, onde mais da metade da população vive abaixo da linha da pobreza. Além da difícil situação humana e econômica, o Haiti tem uma política instável e, mesmo assim, converteu-se em uma meca do cinema caribenho, cujo modelo de produção segue a linha da Índia e da Nigéria, países de grande produção e bilheteria, e dá nome ao fenômeno “Haitiwood”.

Enquanto a economia e a indústria locais estão perdidas no esquecimento e esmagadas pelo capital multinacional, o setor de entretenimento vive seu auge: impulsionado pelos baixos custos de produção e pelo apetite dos haitianos em assistir a histórias que reflitam sua realidade e que sejam faladas em sua língua, o creole haitiano. “Os filmes estão se convertendo na forma artística mais popular do Haiti, depois da música”, disse Arnold Antonin, presidente da Associação de Cineastas Haitianos.

Calcula-se que a produção cinematográfica do Haiti tenha crescido 300% nos últimos cinco anos, incluindo a divulgação e distribuição de filmes em DVD amplamente consumidos pelos imigrantes haitianos residentes nos Estados Unidos.

O primeiro filme haitiano rodado em creole estreou em 1980, em plena ditadura dos Duvalier – que devastaram de vez o país com perseguições políticas, torturas, prisões e saque dos fundos públicos. Intitulado Anita, foi uma realização de Rassoul Labuchin sobre uma menina do campo que se torna empregada de uma família rica.

No entanto, o Haiti não tem uma comissão cinematográfica que possa financiar a produção local. Ainda assim, as filmagens continuam, enfrentando as dificuldades de infra-estrutura do país que só viu sua situação piorar com as intervenções militares estrangeiras.

“Apesar de todo o caos político e os problemas econômicos, o cinema haitiano segue crescendo”, afirma Richard Senecal, diretor de cinema, cuja última produção Cousins, 2006, participou de vários festivais internacionais de cinema.

A chegada de câmeras digitais abriu ainda mais as portas para uma nova geração de cineastas haitianos, reduzindo os custos sensivelmente e promovendo financiamento direto de patrocinadores locais que recebem parte da bilheteria.
Ainda que careçam de excelência técnica, os filmes haitianos exploram temas sociais de grande importância para o país. Um exemplo foi o enorme sucesso que obteve o filme El presidente tiene sida, de 2005, que tratou da dolorosa marca que o vírus imprimiu na sociedade haitiana, enquanto Cousins analisou o tema da prostituição.

Também há inúmeras histórias inspiradas em amores e que se assemelham às telenovelas. Os haitianos respondem a essa onda gastando 100 gourdes (cerca de 2,70 dólares por entrada, mais do que o dobro do que a maioria da população ganha por dia) para entrar nas mal conservadas salas de cinema da capital Porto Príncipe e de outras localidades. Sobre a precariedade de todo este panorama, Antonin alerta: “A menos que comecemos a fazer melhores filmes, com mais técnica, a indústria cinematográfica haitiana pode morrer no útero”. E acrescenta: “Temos o talento, só nos faltam as ferramentas”.

(Fonte: AP, foto: Cartaz do filme Haiti, mon amour, mon rêve)

Mais informações: www.univision.com.

Tradução: Paula Skromov.

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