


Documentário cubano sobre a realidade do Haiti
Nas palavras do realizador Rigoberto López Pego: “a realização de Puerto Príncipe Mio foi uma experiência singular e humana muito intensa e singular, para mim transcendente!” em declaração ao jornal cubano Granma.
O documentário realizado em 2000, visita o espaço urbano devastado de Porto Príncipe, capital do Haiti, e o riquíssimo legado cultural do Caribe, as matrizes culturais que unem a África às Américas. Falado em creole, língua haitiana que nasceu da fusão de línguas africanas como bantu, ioruba, entre outras com o francês, espanhol e inglês.
Puerto Príncipe Mio revela ao longo de seus 57 minutos uma cidade caótica, empobrecida ao extremo e que devora a si mesma, incluindo o meio-ambiente que a cerca, tamanha miséria de recursos. O filme só aprofundou a ligação do cubano com o Haiti, terra conhecida por relatos históricos e narrativas de escritores como o cubano Alejo Carpentier e o poeta Nicolas Guillen.
Nesse filme ficam claras as possibilidades do gênero documental dentro do conceito de mostrar ao mundo, de servir a um propósito maior e instigar perguntas. Não importa se o formato é vídeo ou celulóide, a realidade e a complexidade da vida haitiana transbordam os limites da palavra em uma história real bem contada.
Mas Rigoberto quer mais... agora prepara um projeto para rodar um longa-metragem de ficção no Haiti sobre um dos líderes populares haitianos: Henri Christophe. Em entrevista ao jornal cubano La Jiribilla, Rigoberto fala sobre o líder: “El Fantasma de Henri Christophe terá filmado em formato digital e terá como cenários as cidades de Citadelle e Sans Souci, fortaleza erguida por Christophe para que o povo haitiano nunca voltasse à escravidão e defendesse a sociedade tão sonhada contra invasões dos conquistadores!”.
Rigoberto López transita solenemente no mosaico cultural caribenho, por isso é possível entender, ainda que haja uma distância geográfica e por vezes cultural, a dimensão da tragédia humana que se instaurou no Haiti desde seu nascimento como nação: aliás a primeira nação negra livre do mundo e segundo país de toda a América a se livrar do poderio colonial em 1804 na revolução popular mais importante, e tão injustamente desconhecida, de todo Caribe e América Latina.
Como cineasta, Rigoberto sempre esteve ligado aos direitos humanos. Aliás é dele também o principal projeto de cinema da região: a Mostra Itinerante de Cinema e Vídeo do Caribe com apoio do ICAIC – Instituto Cubano de Artes e Indústria Cinematográficas – e Unesco.
Cuba e Haiti têm muito em comum, além de estarem próximos os países sofrem históricos embargos econômicos, o que parece inspirar ainda mais o diretor que declarou ao La Jiribilla: “Sinto que entre Cuba e Haiti, há uma espécie de alma compartilhada, a inspiração de um canto com duas vozes”.
